Aplicações Industriais e Perspectivas Econômicas do Cânhamo
A versatilidade do Cânhamo é incrível, a a partir dele, podemos desenvolver diversos produtos, para diversos fins, e bota diversos nisso, e o melhor, ele é super ecológico.


O cânhamo industrial, uma variedade da Cannabis sativa L., tem ganhado destaque por suas diversas aplicações e benefícios, principalmente com a legalização do seu cultivo em vários países. Apesar de seu recente renascimento, a planta tem sido utilizada desde os primórdios da civilização, especialmente no Oriente e na África.
O que é o Cânhamo?
O cânhamo industrial e a Cannabis indica subsp. chinensis possuem baixíssimos índices de THC, o que não os enquadra como drogas psicoativas [2]. Essa característica torna a regulamentação um tanto complexa, e, no Brasil, ainda não existe uma legislação específica sobre o tema.
Em contraste com a maconha, o cânhamo não possui interesse para uso recreativo. No entanto, é extremamente versátil, com potencial para fabricação de papel, tecidos, produtos comestíveis, entre outros. Além disso, é rico em canabidiol (CBD), com propriedades terapêuticas promissoras para a indústria farmacêutica e de cosméticos.
Aplicações do Cânhamo Industrial
Sua versatilidade se destaca em diversos setores. Kraenzel [6] classifica a aplicação de seus mais de 25.000 produtos em nove setores: agricultura, automotivo, construção civil, cosméticos, alimentação/nutrição/bebidas, mobília, papel e celulose, reciclagem e têxtil.
Indústrias diversas: As fibras de cânhamo são usadas em tecidos e têxteis, fios, papel, carpetes, cordas, móveis domésticos, materiais de construção e isolamento, autopeças e compósitos e biocombustíveis, bioplásticos.
Construção: Material de construção sustentável, como concreto de cânhamo, madeira e tijolos.
Alimentação: Óleo de cânhamo rico em CBD e ômega-3, sementes com alto valor nutritivo; nutrição animal; proteína em pó; farinha de cânhamo.
As sementes de cânhamo são ricas em proteínas, fibras, ácidos graxos saudáveis e vitaminas.
Óleo de cânhamo pode ser utilizado em cosméticos e produtos para cuidados com a pele.
Cosméticos: Ingrediente em cremes, loções e óleos para cuidados com a pele.
Veterinária: Aditivos alimentares e Saúde Animal
Energia: combustível ((biodiesel)
Fibras e Tecidos
A produção de têxteis, vestuário, cordas e outros materiais a partir do cânhamo é ideal, pois suas fibras longas e curtas possuem propriedades únicas. Elas podem substituir de forma sustentável materiais como algodão e poliéster.
De acordo com Baptista e Santos [3], a qualidade das fibras de cânhamo é uma das melhores para a fabricação de tecidos. O teor de celulose no cânhamo chega a ser 1,5 vezes superior ao do eucalipto, e por possuir baixos níveis de lignina (cerca de 5,5 vezes menos), o processo de produção da pasta é mais rápido. Um hectare pode produzir cerca de doze toneladas de celulose [4].
Em comparação ao algodão, os custos de fabricação são reduzidos, já que a plantação de cânhamo exige muito menos defensivos agrícolas e um terço da água. Segundo o China’s Hemp Research Centre [11], 1,3 milhão de hectares de cânhamo seriam suficientes para fornecer material equivalente ao colhido em mais de 5 milhões de hectares de algodão. A indústria têxtil, automotiva e de materiais de construção têm expandido o uso das fibras de cânhamo devido à sua durabilidade, sustentabilidade e biodegradabilidade [5, 6]. Na Colômbia o cânhamo industrial da cannabis medicinal está se tornando uma commodity de uso agrícola[1].
Sementes e Óleo de Cânhamo
A semente de cânhamo é uma fonte rica em proteínas, fibras, vitaminas e minerais. O óleo comestível é nutritivo e versátil, enquanto o farelo de cânhamo é um excelente suplemento alimentar para humanos e animais.
O óleo de semente, com seu perfil de ácidos graxos, é usado em sabonetes, xampus, loções, géis de banho e outros cosméticos [9]. Além disso, o cânhamo é utilizado em suplementos nutricionais e em produtos farmacêuticos.
Materiais de Construção
O concreto de cânhamo resulta em tijolos leves, resistentes e com alta eficiência térmica. Casas construídas com esse material são mais resistentes ao fogo, além de possuírem excelente resistência a mofo e bactérias [4]. Por isso, o cânhamo é uma das plantas mais versáteis para fins industriais, podendo ser usado em painéis de madeira como isolantes térmicos e acústicos.
Bioplásticos à Base de Cânhamo
Diferente do plástico comum, que utiliza bisfenol A (BPA) — um composto químico prejudicial à saúde e disruptor endócrino —, o bioplástico de cânhamo é livre de BPA. Seu processo de fabricação não libera gases tóxicos, e ele é ecologicamente correto por ser biodegradável, levando apenas de 3 a 6 meses para se decompor completamente, com baixo impacto ambiental.
Os plásticos de cânhamo são mais duráveis (duas vezes e meia mais fortes que os de polipropileno), resistentes ao calor e aos raios UV, e podem ser reciclados [9, 10].
Biocombustíveis e Outros Usos
A fibra do cânhamo industrial (Cannabis sativa L.) é uma fonte renovável e eficiente para a geração de bioenergia, como biodiesel e etanol, com baixos custos de produção. Além disso, seu cultivo atua na extração de poluentes do solo, como zinco e mercúrio, melhorando a reserva de água e ativando a vida do solo. A planta também é resistente a fungos e insetos.
Produção Mundial e Brasileira
Produção Mundial
A área global destinada ao cultivo de cânhamo cresceu 91% entre 2012 e 2016 [12], tendo a produção alcançado uma evolução de 40% em áreas de encostas e um aumento de 80-116% em locais de cultivo próxima a regiões de alta qualidade para o cultivo.
Nos EUA, a produção passou de 20.000 hectares em 2015 para 32.000 hectares atualmente. Na Europa, o cultivo para fibras aumentou 60% entre 2015 e 2022, com a França liderando a produção [7]. A receita legal para o mercado de produtos de cânhamo está projetada para atingir US$ 23,4 bilhões nos EUA, US$ 5,5 bilhões no Canadá e US$ 3,1 bilhões no resto do mundo até 2022 [13].
Entretanto, como os mercados de produtos de cânhamo estão em diferentes estágios de desenvolvimento, torna-se difícil descrever com precisão a sua cadeia produtiva e seus encadeamentos.
Potencial Brasileiro
As primeiras experiências brasileiras com cânhamo industrial datam do final do século XIX, com a produção de fios, tecidos e cordas. O cultivo foi incentivado pelo governo em 1935, com empresas especializadas em Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro [8].
O Brasil possui um grande potencial para o desenvolvimento da cadeia produtiva do cânhamo. De acordo com Rocha, Oliveira e Souza [14], entre 80% e 95% do território brasileiro possui aptidão entre boa e ótima para o cultivo de fibras. As regiões Nordeste e Centro-Oeste apresentam as maiores aptidões.








Apesar do cultivo de qualquer espécie de Cannabis ser proibido no Brasil, o cultivo ilegal de Cannabis indica (maconha) é praticado em diversas regiões, como o Polígono da Maconha no Vale do São Francisco [15]. O valor pago pela erva chega a ser 10 vezes maior do que o recebido por cultivos tradicionais [16].
A mudança na legislação poderia impulsionar a economia agrícola e gerar valor agregado no setor não alimentar, especialmente para pequenos agricultores.
Conforme destacamos anteriormente aqui, as fibras da planta podem ser capazes de criar um tipo de concreto tão eficaz quanto o tradicional. O material feito de cânhamo torna possível proporcionar isolamento térmico e impermeável, ao mesmo tempo que permite uma sutil troca de ar externo com o interno.
As fibras podem ser aplicadas na produção de bioplásticos, biocombustíveis, materiais como tecidos, madeira, papel, embalagens biodegradáveis, materiais de construção, com possibilidade de serem utilizados nas mais variadas construções e usos, como em paredes de casas ou até mesmo em edifícios.
Fontes e Referências
GUIA SECHAT da Cannabis, 3ª edição. 2023.
SULLIVAN, Pauline; CHAN-HALBRENDT, Catherine; LIN, M. A. TUN. “Sustainable Development: Building a Case for Hemp.” Journal of Textile and Apparel, Technology and Management, v. 4, n. 3, mar. 2005.
BAPTISTA, C.; SANTOS, N.F. “Cânhamo: aplicações papeleiras.” Agroforum: Revista da Escola Superior Agrária de Castelo Branco. ISSN 0872-2617. Ano 7, n. 14, p. 37-40, 1999.
STRUIK, P.C. et al. “Agronomy of fibre hemp (Cannabis sativa L.) in Europe.” 1999.
PICKERING, K.L.; EFENDY, M.A.; Le, T.M. “A review of recent developments in natural fibre composites and their mechanical performance.” Compos A Appl Sci Manuf., v. 83, p. 98–112, 2016.
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VISKOVI´C, J. et al. “Industrial Hemp (Cannabis sativa L.) Agronomy and Utilization: A Review.”
ROSA, T. M. O cânhamo industrial no Brasil: subsídios para a construção de uma política pública. 2018.
NHA – National Hemp Association. “A View Of The Future Of Hemp Plastic.” Disponível em: <https://nationalhempassociation.org/national-hemp-association-agm-presents-positive-future-2/> Acesso em: 27 ago. 2025.
SECHAT. “Plástico de cânhamo: o que é e como é feito.” Por João Negromonte. Publicado em: 3 nov. 2022. Disponível em: <https://sechat.com.br/noticia/plastico-de-canhamo>. Acesso em: 27 ago. 2025.
FASHION NETWORK. “China pretende aumentar o emprego do cânhamo na indústria têxtil.” Disponível em: <https://br.fashionnetwork.com/news/China-pretende-aumentar-o-emprego-do-canhamo-na-industria-textil,689991.html>. Acesso em: 28 ago. 2025.
BUTSIC, R. et al. “The effect of legal marijuana on cannabis markets and crime.” Nature Human Behaviour, v. 2, n. 4, p. 274–280, 2018.
ŻUK-GOŁASZEWSKA, K.; GOŁASZEWSKI, J. “The economics of industrial hemp.” Sustainability, v. 12, n. 15, p. 6114, 2020.
ROCHA, A.; OLIVEIRA, S.; SOUZA, A. “Potencialidades e desafios do cânhamo industrial no Brasil: um estudo de caso do Vale do São Francisco.” Revista de Economia e Agronegócio, v. 16, n. 2, p. 119-140, 2018.
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